sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Uma aula de cidadania por Gustavo, 10 anos de idade



“Sempre haverá alguém racista.  É importante mostrar a realidade a partir do ponto de vista do próprio negro”. (Gustavo Gomes da Silva, 10 anos)



O Projeto Leituraço, realizado desde o último dia 3 pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, propôs maior reflexão para a sociedade a respeito de suas raízes, neste mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra (20) em alguns municípios. Até amanhã (14), quando termina o projeto, 800 mil alunos de 1.462 escolas de educação infantil e de ensinos fundamental e médio terão realizado leituras simultâneas de obras africanas e afro-brasileiras.
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A reportagem da TVT, em visita ao CEU Vila Curuçá, na zona leste da cidade, conversou com Gustavo Gomes da Silva, de 10 anos, que deu uma aula sobre cidadania. Veloz e consciente nos argumentos, o garoto da 5ª série do fundamental, falou sobre a importância de se conhecer a cultura afrobrasileira para combater o racismo.

“Se eu sou mesmo afrodescendente, eu quero saber as histórias da África, porque mesmo que não apareça a moral, como nas fábulas, elas têm uma moral escondida que você aprende.” Para Gustavo, os heróis negros desses contos ajudam as pessoas a respeitar os outros, ensinam que ninguém vive sozinho, isolado. “São todos em conjunto para combater o preconceito, a fome.”

Gustavo defende o debate proposto pelo Leituraço, já que “sempre haverá alguém racista”. “É importante mostrar a realidade a partir do ponto de vista do próprio negro”, defendeu.
Veja o vídeo, com a entrevista:
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Compartilhado do site Geledés


domingo, 14 de dezembro de 2014

Secretário-geral da ONU parabeniza o trabalho da Comissão Nacional da Verdade brasileira

 

Na mensagem, Ban também envia ao governo e à população brasileira suas congratulações pelos esforços em promover a verdade e a reconciliação nacional através da Comissão da Verdade. 

 


secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, enviou nesta quarta-feira, 10 de dezembro, uma mensagem para os membros da Comissão Nacional da Verdade, no dia em que o relatório final é apresentado para a sociedade brasileira.
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Em sua mensagem, Ban lembra que “as Nações Unidas encorajam e apoiam esforços em todo o mundo para desvendar os fatos que envolvem grandes violações dos direitos humanos” e que “informar a sociedade e estimular o diálogo sobre as liberdades fundamentais, e como estas foram violadas, é uma salvaguarda vital contra a recorrência de abusos”, já que “todas as vítimas têm o direito de saber a verdade sobre as violações que sofreram”.

“Junto-me ao Brasil para honrar a memória daqueles que sofreram como resultado das brutais e sistemáticas violações dos direitos humanos que ocorreram entre 1946 e 1985. Convoco a todos os envolvidos a divulgar as descobertas e as recomendações do Relatório Final da forma mais extensa possível”, diz Ban.

O secretário-geral conclui afirmando que “as Nações Unidas estão ao lado de todos os brasileiros na lembrança de suas perdas, nos seus esforços para fortalecer a proteção dos direitos humanos e na promoção da reconciliação nacional”.
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Publicado originalmente no site da ONUBR - Nações Unidas no Brasil


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

ONU: Paquistão adota Programa Fome Zero baseado no exemplo brasileiro


Seminário sobre alimentação no país discutiu as principais lições da luta brasileira contra a fome. Acesso limitado dos agricultores familiares à terra, à geração de renda e aos mercados é o maior desafio para a segurança alimentar paquistanesa.


Distribuição de alimentos pelas Nações Unidas no Paquistão.  Foto: PMA/Amjad Jamal



O governo do Paquistão e o escritório do Programa Mundial de Alimentos (PMA) no país realizaram um seminário sobre segurança alimentar na capital Islamabad durante a última semana. O evento discutiu a participação do governo no Programa Fome Zero do país e contou com a presença da diretora do Centro de Excelência contra a Fome, Cynthia Jones, que apresentou as principais lições da experiência brasileira de combate à fome.
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Estiveram também presentes oficiais do governo federal e dos governos das províncias, representantes de ONGs nacionais e internacionais, renomados acadêmicos e membros da sociedade civil. Os participantes destacaram que a iniciativa Fome Zero deve aprender com experiências inovadoras internacionais e estar alinhada com os programas já em andamento.

Todos os presentes receberam uma cópia do Plano de Ação do Paquistão para Segurança Alimentar e Nutricional, elaborado pelos membros da delegação que participaram na visita de estudos ao Brasil, organizada pelo Centro de Excelência no começo de 2014. Dentre os principais desafios para o desenvolvimento da segurança alimentar paquistanesa, estão o acesso limitado dos agricultores familiares à terra, à geração de renda e aos mercados.

Para lidar com este panorama, é necessário aprimorar a coordenação, o diálogo e a complementaridade entre os diferentes níveis de governo, além de criar planejamentos para o manejo e a distribuição da água. Todas as recomendações feitas durante o seminário serão consideradas na implementação do Programa Fome Zero do país.
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Publicado originalmente no site da ONUBR - Nações Unidas no Brasil.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

”Impostos são o preço que se paga por uma sociedade civilizada”

Por Claudia Wallin



”Se você tem uma criança com alguma doença grave, ou se não ganha um salário particularmente alto, você pode se sentir seguro na Suécia. Se fosse nos Estados Unidos, você estaria perdido. Mas acreditamos que, em nossa sociedade, todos têm direito a uma vida digna.”  (Robert Windahl, garçom)



Escola na Suécia: tudo gratuito e acesso universal






















Em sueco, a palavra ”skatt” tem dois significados, que no juízo apressado de um forasteiro podem parecer conceitos tão distantes entre si como o céu e o inferno: ”impostos” e ”tesouro”.

Mas como qualquer espantado alienígena constata ao chegar à Suécia, o termo ”impostos” tem por aqui uma conotação visceralmente positiva. Na lógica da maioria dos suecos, assim como dos demais povos da Escandinávia, os tributos são o preço justo que se paga por uma sociedade mais humana, igualitária e harmônica – e por isso menos violenta. Mesmo quando se cobra, como é o caso escandinavo, um dos impostos mais elevados do planeta. 
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O pensamento escandinavo é uma esfinge de enigma quase indecifrável para muitos povos. A começar pelos seguidores do credo americano de que, quanto mais baixos os impostos, melhor.

Mas a primeira explicação é elementar: paga-se impostos de bom grado por aqui, dizem os suecos, porque as coisas funcionam. E funcionam bem. O sistema de saúde pública proporciona atendimento de qualidade a todos, independentemente da renda de cada um. A educação, gratuita e de alto nível, garante oportunidades iguais de acesso de todos os cidadãos ao ensino, do pré-escolar à universidade. As cidades são limpas. Os transportes públicos são organizados e eficientes – e em nenhuma estrada da Suécia paga-se pedágio. A lista é longa.
A segunda explicação do enigma requer um esforço de compreensão do sentimento de humanidade e solidariedade que molda o pensamento escandinavo.


A partir do dia do nascimento, cada criança recebe um subsídio mensal do governo no valor de 1.050 coroas suecas (aproximadamente 355 reais)
 

 "IMPOSTOS SÃO O PREÇO QUE SE PAGA POR UMA SOCIEDADE CIVILIZADA."


”Tenho orgulho de pagar impostos”, resume Robert Windahl, o Robben, popular garçom do pub local que frequento em Estocolmo. É uma frase que se ouve com frequência anormal no país. Robben explica: ”Se você tem uma criança com alguma doença grave, ou se não ganha um salário particularmente alto, você pode se sentir seguro na Suécia. Se fosse nos Estados Unidos, você estaria perdido. Mas acreditamos que, em nossa sociedade, todos têm direito a uma vida digna.”

É uma carga tributária alta demais para cumprir esse ideal? – pergunto. Atualmente, a carga tributária na Suécia é de cerca de 45% do Produto Interno Bruto (PIB), contra cerca de 36%, no caso do Brasil.

”Certamente não”, ele diz. ”E todos se beneficiam do sistema, que é universal. Ou seja, os mais ricos pagam mais impostos, mas também não precisam pagar para que seus filhos estudem até à universidade, por exemplo. E se eu mesmo resolver ser médico, posso começar a estudar amanhã, sem gastar uma krona (coroa sueca)”.

”É verdade que pagamos um dos impostos mais altos do mundo”, continua ele. ”Mas como mostram várias pesquisas, os escandinavos estão sempre no alto da lista dos povos mais felizes do mundo”, lembra Robben, que paga 40% de seus vencimentos ao fisco.

Na Suécia, a origem do desenvolvimento do welfare state (Estado de bem-estar social), financiado pelos altos impostos, foi marcada por uma expressão cunhada por Per Albin Hansson, o legendário primeiro-ministro social-democrata: Folkhemmet, ou ”Lar do Povo”. A expressão tornou-se o símbolo da visão de sociedade da social-democracia sueca: as pessoas deveriam sentir-se tão seguras na sociedade como se sentiam no interior de seus próprios lares.

”Um bom lar não tem membros privilegiados ou rejeitados; não tem favoritos nem filhos postiços. Nele, uma pessoa não olha para a outra com desdém; nele, ninguém tenta obter vantagens às custas do outro; nele, o forte não oprime nem rouba o fraco. Em um bom lar existe igualdade”, disse Hansson, em 1932, no Parlamento sueco. O conceito foi o embrião do famoso modelo social sueco, que iria se tornar um exemplo para o mundo.

De lá para cá, o Estado-providência sueco tem sofrido ajustes. Crises econômicas sacudiram o paraíso, que continua no entanto vigorosamente próspero, e novos desafios se impõem diante do modelo e seu futuro. Como observaram os consultores do Boston Consulting Group em conferência recente aqui em Estocolmo, o envelhecimento populacional na Suécia é uma das ameaças que pairam sobre o modelo: daqui a cerca de 15 anos, estima-se, cada cidadão sueco estará trabalhando para financiar, com seus impostos, um conterrâneo aposentado.

Apesar dos ajustes, até o momento o welfare state sueco permanece generoso, embora menos generoso do que já foi. E apesar das vozes discordantes, cerca de 75 por cento dos suecos estariam na verdade dispostos a pagar impostos ainda mais altos para manter a sociedade justa, próspera e eficiente que criaram – segundo pesquisa realizada em 2010 pelo sociólogo sueco Stefan Svallfors.

Sim: testemunhei cenas sobrenaturais nos últimos anos, quando vi um sem-número de cidadãos suecos reclamando, nos jornais e noticiários de TV, a cada vez que o governo de centro-direita – despachado do poder nas eleições de setembro deste ano – anunciava um pequeno corte nos impostos.

”A redução de impostos significa que eu passo a ter 600 coroas (cerca de 200 reais) a mais no bolso”, disse na TV sueca, na época, um dos cidadãos entrevistados. ”Para mim, que já ganho um bom salário, essa quantia extra não faz tanta diferença. Mas faz uma diferença enorme para a sociedade, e por isso acho que esse dinheiro seria melhor empregado para garantir a qualidade das nossas escolas, hospitais e serviços em geral”.

Nas ruas de Estocolmo, voltei a ouvir a mesma argumentação: baixar os impostos, no entender de grande parte dos cidadãos, faz por exemplo uma diferença brutal para o nível de qualidade da educação, que impulsiona a prosperidade do país. Põe em risco a essência igualitária da sociedade sueca, e aumenta a distância entre ricos e pobres. Menospreza a dignidade da vida dos excluídos, dos doentes, dos desesperados.

Por isso, também parece sobrenatural imaginar um país onde os partidos políticos fazem campanha eleitoral prometendo aumentar, e não baixar, os impostos. Mas assim é a realidade sueca: qualquer analista político americano ficaria perplexo ao saber, por exemplo, que a própria coalizão de governo de centro-direita sueca foi às urnas, este ano, defendendo uma alta nos impostos:

”É bom termos impostos, para que tenhamos segurança social, educação e saúde”, disse na TV sueca o então ministro das Finanças, Anders Borg. É certo que nem tudo é unanimidade no reino dos suecos, quando o assunto são os altos impostos. Muitos são os que apóiam o receituário aplicado nos recém-encerrados oito anos de poder da centro-direita, que defende a implementação de ajustes necessários, na sua visão, para criar um modelo sueco renovado diante dos desafios dos novos tempos.

Mas a recente queda nos índices de desempenho escolar, assim como outros problemas na estrutura do modelo social, renovaram, segundo pesquisas recentes, o ânimo dos suecos para pagar índices elevados de impostos. Emblemática é a frase estampada esta semana na coluna política do jornal Aftonbladet – a mesma frase que se lê originalmente, aliás, em uma inscrição no prédio da Receita Federal americana (IRS) em Washington: ”Impostos são o preço que se paga por uma sociedade civilizada.”

Os impostos sobre herança foram abolidos na Suécia em 2004, como medida destinada a proteger empresas e empregos na esteira da crise econômica dos anos 90 – quase a metade dos empresários que geravam até 60% dos novos empregos no país estava acima dos 50 anos de idade, na época. E a taxação sobre fortunas foi cancelada em 2007, a fim de evitar a saída de empreendedores do país.

A estrutura tributária progressiva, porém, é desenhada para uma melhor distribuição de renda: quem ganha muito mais, paga muito mais impostos.

As taxas municipais variam entre 29 e 36 por cento da renda de um indivíduo, dependendo do local em que a pessoa vive. Além disso, para os que ganham acima de 35,5 mil coroas suecas mensais – que é o salário médio de um professor universitário, por exemplo -, impostos estatais entre 20 e 25 por cento são cobrados a partir de determinados níveis de rendimento. A carga tributária é aumentada ainda pelo imposto sobre valor agregado, uma taxa de 25% que incide sobre a compra de alimentos e a maioria dos produtos e serviços em geral. 

IMPOSTOS ALTOS, SERVIÇOS UNIVERSAIS


Em contrapartida, todos têm direito a uma ampla rede de proteção, do berço ao túmulo.

Quando uma criança nasce na Suécia, os pais têm direito a uma licença parental remunerada de 480 dias. As creches pré-escolares são largamente subsidiadas pelo governo, e os pais pagam apenas oito por cento do custo mensal.

A partir do dia do nascimento, cada criança recebe um subsídio mensal do governo no valor de 1.050 coroas suecas (aproximadamente 355 reais).

Após completar 16 anos de idade, cada criança passa a receber um subsídio mensal do governo no mesmo valor, como assistência financeira enquanto completa seu período de estudos.

O tratamento dentário é gratuito para crianças e adolescentes até os 18 anos de idade. Eles também podem ter aparelhos dentários financiados pelo governo regional: quando os especialistas julgam necessária a correção dos dentes, o paciente recebe um ”cheque saúde dos dentes” para custear os gastos com o ortodontista de sua escolha.

Quando as crianças têm problemas graves de visão, também é o governo regional que paga os óculos de grau. Para famílias com situação econômica mais desfavorável, os pais de crianças com deficiências de visão mais comuns podem contactar os serviços sociais, que então financiam os óculos.

Não existem mensalidades escolares. A partir dos seis anos de idade, todas as crianças têm acesso gratuito à educação, que é obrigatória até o último ano do ensino médio. As escolas fornecem ainda todo o material escolar.

Se decidem cursar a universidade – que também é gratuita – os estudantes suecos têm direito a uma assistência financeira mensal, até completar os estudos. Esta assistência é composta por um subsídio de cerca de mil reais por mês, além de um empréstimo no valor aproximado de 2,3 mil reais mensais. O prazo para o reembolso do empréstimo é o dia em que o ex-estudante completa 60 anos de idade.

O sistema de saúde é também amplamente subsidiado, e a taxa de internação em um hospital é de 80 coroas suecas (cerca de 27 reais) por dia.

Saúde pública de qualidade



 Já o seguro-desemprego é voluntário – ou seja, o trabalhador deve se inscrever em instituições específicas para ter direito ao benefício, e pagar uma mensalidade. Estas instituições são conhecidas como ”A-Kassa” (Arbetslöshetskassor), e muitas são administradas por sindicatos. No pacote básico, a mensalidade é de 90 coroas suecas mensais (cerca de 13 dólares). Para poder usufruir de um salário-desemprego maior do que o básico, o trabalhador deve fazer um seguro suplementar, com contribuições mensais proporcionais ao salário. Quando perde o emprego, um trabalhador pode receber o salário-desemprego por até 300 dias úteis.

Para famílias mais pobres ou com problemas econômicos temporários, os governos municipais prestam assistência sob a forma de apoio financeiro com base em avaliações individuais. Este apoio inclui recursos para despesas básicas, com a finalidade de garantir um padrão de vida razoável.

Como um todo, é um sistema que mantém alta credibilidade: em 2013, uma pesquisa apontou que 86% dos suecos confiam no Skatteverket, a autoridade fiscal sueca.

”As pessoas confiam no fato de que o Estado, os políticos e a administração pública vão empregar o dinheiro de seus impostos de maneira eficiente”, diz o jornalista e historiador Henrik Berggren. ”Em segundo lugar, a questão da igualdade social é extremamente importante na Suécia”, observa ele.

Mas como o ser humano é o mesmo, e fraudadores de impostos em potencial germinam em todas as latitudes quando o clima é propício, a Suécia tem um poderoso e eficiente sistema para evitar a sonegação fiscal.

Descuidos ou más intenções, como informações errôneas e deduções inválidas na declaração de renda, costumam ser punidos com multas de 40% sobre o valor do imposto a ser pago – ou, para casos extremos, com o xadrez.

Não se brinca com as garras do sempre atento leão sueco, que parece ter mil olhos.
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Cláudia Wallin, radicada em Estocolmo, é jornalista e autora do livro "Um país sem excelências e mordomias". 
Artigo publicado originalmente no DCM.



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A Manipulação subliminar da Globo através dos gráficos

Por Paulo Franco

A CLASSE MÉDIA COMO MASSA DE MANOBRA


Eu tenho dito que o publico alvo a ser manipulado pelo telejornalismo da Globo é a classe média.  Inteligentemente, a Globo percebeu que há um enorme desconforto na classe média, com a ascensão das classes baixas, diminuindo ou pressionando suas condições de status social. 

Neste contexto, os responsáveis pelo telejornalismo da emissora, perceberam que seria só alimentar com informações que  público se identifica, e dai fazer suas manipulações obtendo uma total aderência nas mensagens e nos conteúdos providenciando uma configuração dos parâmetros que permita minimizar ou anular os efeitos das notícias positivas e enaltecer, exagerar, ressaltar as notícias ruins. 

Como as notícias ruins (reais) são poucas, a estratégia da Globo é transformar notícias boas em ruins, como por exemplo superestimar o resultado bom de outros países e subestimar os resultados bons do Brasil.
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É muito comum o uso desse expediente, como foi mostrado no diálogo de Dilma e Miriam Leitão, numa sabatina dos candidatos pouco antes das eleições.  Naquela oportunidade Miriam Leitão tentou puxar para cima o resultado do PIB de todos os países, tanto da América Latina, como da Europa.  Também enaltecendo a recuperação daqueles países, com altas taxas de crescimento, enquanto o Brasil se afundava. 

Formou-se uma discussão calorosa e até desrespeitosa por parte de Miriam Leitão, mas que depois ficou comprovado que ela mentia e a Presidenta Dilma estava bem informada e bem fundamentada.  A Alemanha por exemplo, teve no 3o. trimestre um crescimento do PIB de 0,1%, depois de amargar 0,2% negativos no trimestre anterior, escapando por pouco de uma recessão.  Ao mesmo tempo em que França, Itália, Holanda já estão navegando no vermelho recessivo.  O Japão então, encontra-se numa forte recessão, caindo 1,6% neste 3o. trimestre depois de ter uma queda de 7,6% no trimestre anterior. 

NEUTRALIZANDO O MÉRITO DO DESEMPREGO


Vemos neste exemplo do desemprego, como a Globo utiliza-se de seu expertise em comunicação para manipular sutilmente o seu telespectador. 


















Nesse gráfico, nota-se uma estratégia de comunicação visual com uma manipulação subliminar.  Muitos telespectadores se atém ao gráfico sem se preocupar muito com o detalhe do número, pois o gráfico existe para facilitar a compreensão, para ilustrar a facilitar a comunicação. 

Pois bem, propositalmente, os editores de jornalismo da Globo News elevou a barra do desemprego no Brasil de 4,7%,  a tal ponto que ficou exatamente na altura do Chile que tem um desemprego quase 50% maior que o do Brasil.  

A Barra do desemprego do Brasil,  está visualmente maior que a do Peru que tem 5,7% e maior ainda que a do México que tem 4,8%, como pode ser facilmente identificável pela linha horizontal traçadas no teto de cada barra.














O gráfico acima mostra de forma proporcional os índices de desemprego dos países selecionados por eles.  Vê-se claramente a diferença entre uma situação e outra.  Ou seja, o objetivo de minimizar a grande vantagem do Brasil em relação aos outros países no desemprego é inquestionável. 


A estratégia foi aplicada também, quando se comparou a taxa de desemprego do Brasil com alguns países selecionados da Europa.


Neste gráfico nota-se o quão absurdo é a manipulação gráfica do jornalismo da Globo news.  Isso demonstra claramente que não se pode mais considerar que estejam fazendo jornalismo, aliás, seria um antijornalismo, por ao invés de informar eles estão desinformando.  Ou o que é pior ainda, informando propositalmente errado, o que pode causar prejuízo para pessoas que tomam decisões com base nas noticias do jornal. 

Entendo que os números, neste caso específico não foram alterados, mas como disse, em muitas pessoas o que fica é a imagem gráfica.

Neste caso, onde o índice de desemprego do Brasil é comparado com alguns países da Europa, embora o Brasil tenha apresentado o menor índice (4,7%), todas as barras inclusive dos países com índice maiores como a Alemanha com 5%, os EUA com 5,8% e o Reino Unido com 6% tem suas barras com altura menor que a do Brasil. 

Veja aqui, como deveria ser esse gráfico, respeitando a proporcionalidade entre os índices de cada país. 






















domingo, 23 de novembro de 2014

El negocio de la Florida son los negocios

Por Max J. Castro

"... um novo estudo da 'United Way' conclui que quase metade dos residentes do estado vive abaixo da linha da pobreza ou um pouco mais acima do que eles precisam lutar para pagar por necessidades básicas, que incluem alimentos, moradia e cuidados com as crianças. Às vezes, eles perdem essa briga. Quando isso acontece, as famílias passam fome ou são despejadas de suas casas ou seus filhos carecem de supervisão. Ou os três: esses são realmente os piores momentos ".



MIAMI – Fue el mejor de los tiempos, fue el peor de los tiempos.

Por una parte, el sitio web de Enterprise Florida – “la organización económica oficial para el estado de la Florida”– proclama orgullosamente: “La Florida – El Clima Perfecto para los Negocios”.

¿Y por qué la Florida es el clima perfecto para los negocios?, preguntan ellos retóricamente. La gente de Enterprise Florida explica amablemente. “Ustedes pueden estar tranquilos cuando sitúan su negocio en la Florida. La favorable estructura del estado para impuestos a los negocios, las políticas gubernamentales y los costos competitivos”. Y así sucesivamente… 
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Por otra parte, un nuevo estudio de United Way concluye que casi la mitad de los residentes del estado vive por debajo del límite de pobreza o tan ligeramente por encima que debe luchar para poder pagar por las necesidades básicas, que incluyen alimentación, vivienda y cuidado de los hijos. A veces pierden esa lucha. Cuando eso sucede, las familias pasan hambre o son desahuciadas de sus casas o sus hijos carecen de supervisión. O las tres cosas: esos son realmente los tiempos peores.

La realidad de que casi la mitad de la población viva en graves dificultades no está limitada a los “Quintos Infiernos”, las deprimidas comunidades rurales del norte del estado o del cinturón de pobreza que incluye la zona de la caña de azúcar alrededor del lago Okeechobee. También es válida para el sur de la Florida, donde vive alguna de la gente más rica del mundo –al menos parte del año.

Ahora, si tuviera alguna validez la ideología de fundamentalistas tales del libre mercado como el gobernador Rick Scott –y junto con él casi todo el moderno Partido Republicano– un clima perfecto para negocios y la miseria masiva no podrían coexistir.

La suma total de lo que el Partido Republicano llama su filosofía económica consiste en la noción de que la prosperidad es un producto de bajos impuestos a los negocios y a los ricos, además de políticas gubernamentales que favorecen los negocios y castigan a los trabajadores.

Pero oigan, sabemos de buena fuente, nada menos que de Enterprise Florida, que todo eso ya se encuentra en este estado. Por tanto los “creadores de empleos” deben andar por ahí creando toneladas de puestos de trabajo y compitiendo entre sí al aumentar los salarios, a fin de obtener a los trabajadores que se necesitan para ocupar muchos puestos.

Sin embargo, es evidente que eso no está sucediendo. Cuando el porcentaje de personas que vive en la pobreza o casi en la pobreza es seis o siete veces más que la tasa de desempleo, se sabe que hay legiones de trabajadores que cobran salarios miserables.

Como en el caso de los turistas, para los negocios el clima en la Florida puede ser ideal. Pero eso no es consuelo para casi la mitad de los habitantes del estado que tiene que trabajar duramente solo para mantener la cabeza fuera del agua.

El gobernador Scott no creó casi el número de empleos que él asegura que hizo. Pero esa no es la verdadera pregunta. La pregunta verdadera es cuántos puestos de trabajo él creó que pagan un salario decente. Las conclusiones del estudio de United Way indican que la respuesta es “no muchos”.

Las conclusiones de United Way no son sorprendentes si uno se da cuenta que la llamada filosofía económica republicana es falsa, una cortina de humo para defender los intereses de las corporaciones y de los ricos. No hay ningún misterio en esto. A la larga, las cosas que hacen que la Florida sea perfecta para los negocios son las mismas que las de la pobreza desenfrenada. Por ejemplo, bajos impuestos significan magros gastos en educación, atención médica y otros servicios públicos que reducen la pobreza.

Otro nuevo estudio demuestra adicionalmente el precio que los ciudadanos pagan por vivir en un estado con clima perfecto para los negocios. The March of Dimes, una organización sin fines de lucro que trabaja para mejorar la salud de madres y bebés, califica a los estados en una escala de la A a la F, según su éxito en reducir los nacimientos prematuros. Los nacimientos prematuros pueden tener muchas consecuencias adversas para el niño. La tasa de nacimientos prematuros es también un buen indicio del bienestar general de la población. Este año, March of Dimes concedió una “D” a la Florida. Eso sitúa al estado casi en el fondo del barril.

Estos dos estudios ofrecen una ventana hacia los resultados de dos décadas de dominación política republicana de la Florida. Después de cuatro años más de Rick Scott, la palabra pudiera tener que ser más fuerte: abismal.
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Max J. Castro, a sociologist and bilingual columnist, is a founding member of the Emergency Network of Cuban-American Scholars and Artists and a co-author of This Land Is Our Land: Immigrants and Power in Miami.
Progreso Semanal/ Weekly - fundado por Francisco G. Aruca, es una publicación independiente con carácter progresista.
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sábado, 15 de novembro de 2014

"Não posso. Porque eu sou negro"

Por João Paulo Porto


- Eu queria ser médico, mas não posso.

- Não pode porquê?

- Porque sou negro



Eu tenho um paciente negro, de 8 anos, que é absurdamente inteligente. De família pobre, sua mãe, igualmente inteligente, fez, por conta própria, a árvore genealógica da família, de forma organizada, num caderno, cheio colagens e o mostrou durante a consulta.

Acontece que, há 4 gerações, o avô do avô dela era escravo. Logo após a abolição da escravatura, ele foi expulso da fazenda onde trabalhava por ser velho demais e acabou morando na rua, com uma família de 4 pessoas, até morrer de tuberculose.
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O pai do avô dela, seu filho, teve que sustentar a família fazendo bicos e cometendo pequenos delitos, de forma que foi preso logo após engravidar a mãe do avô dela, dando origem, claro, ao avô dela.

Esse avô nasceu já sem pai, pois o mesmo faleceu na prisão, quando ele tinha 8 anos de idade. Cresceu sem possibilidade de estudo, tendo que trabalhar desde muito novo, para sustentar a mãe e 3 irmãos mais novos, de outra relação da mãe. Essas 4 crianças ficaram sozinhas quando ele tinha 15 anos, após o falecimento dela. Trabalhando em fazendas, teve 5 filhos, o quinto, seu pai.

Ele nunca foi à escola, cresceu na fazenda e quando ser tornou homem feito, casou-se e teve 4 filhos, incluindo essa mãe. Ela também cresceu na fazenda e não teve chance de estudar. Hoje, faz faxinas e faz questão de que os filhos estudem.
- Você é muito inteligente. - disse eu ao garoto.
- Obrigado.
- Já sabe o que vai ser quando você crescer?
- Já. Vou ser caminhoneiro.
- Mas não pensou em outra coisa, você tem muita capacidade, pode ser qualquer coisa!
- Bem, eu queria mesmo ser médico...
- Ora, então seja!!
- Não posso!
- Não pode? Não pode por que?
- Porque eu sou negro.
Imagine você o porquê de ele pensar assim. Imagine você como estar há 5 gerações da escravatura pode ter influenciado a história dessa família e a atual condição dessa criança. Imagine como o preconceito de décadas minou as chances dessa família de dar aos seus descendentes uma vida melhor do que tiveram...

Imagine agora, o quanto você é absurdamente privilegiado em relação a eles.

Agora, tente novamente encher a boca pra dizer que a questão racial não é mais relevante, que cotas não são justas, que programas de distribuição de renda são coisa de vagabundo e que você tem o que tem hoje realmente por mérito seu...
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 João Paulo Porto - Médico Pediatra e Neurologista Infantil e guitarrista na banda noventista Lava Divers; fascinado pela influência da neurociência evolucionista na história, antropologia e comportamento.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Anistia Internacional: Homicídios Invisíveis


Por Fernanda da Escóssia



RIO - Um jovem negro sai de casa. Na rua, no baile, na quadra, no ônibus, encontra amigos invisíveis. As roupas, a pipa, os fones e a bola se movem sem que se veja quem está ali. Correria, gritaria, um tiro. O jovem cai. Assim o vídeo de lançamento da campanha “Jovem Negro Vivo”, da Anistia Internacional, alerta para um problema antigo, mas ainda invisível para a maioria da socidade: os homicídios de jovens negros no Brasil.

Os números de homicídios são do Mapa da Violência, estudo realizado desde 1998 pelo sociólogo Julio Jacobo Weiselfisz com base em dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde. A versão 2014 do Mapa traz as últimas informações disponíveis, referentes ao ano de 2012, e foi realizada em conjunto com a Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.




A campanha da Anistia, que usa os números do Mapa, será lançada hoje no Aterro do Flamengo, no Centro do Rio. Esculturas de arame lembrando jovens mortos, os tais invisíveis, e um desafio entre grupos de passinho, a dança frenética que virou mania entre adolescentes e crianças, vão tentar atrair a atenção da população para o problema.
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— Os dados ainda são escandalosos. Mas o problema parece que não entra na agenda política nacional. O objetivo da campanha é tirar esse tema do armário. Hoje, tudo leva a crer que a sociedade não se importa com isso — afirma o sociólogo Átila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil e um dos coordenadores da campanha Jovem Negro Vivo.

Para quem vai ao Aterro passear ou perder calorias extras, o duelo de grupos de passinho pode parecer só diversão. Mas a alegria da dança é uma das apostas da campanha para chamar a atenção para a vida de jovens da periferia que, como os acrobatas do passinho, são mais pobres, estão mais longe da escola e mais perto de situações de risco.

Em dez anos, de 2002 a 2012, os homicídios de jovens negros cresceram 32,4%; os de jovens brancos, 32,3%. Considerando a relação com a população, entre jovens negros a taxa de homicídios por cem mil habitantes cresceu 6,5%; entre jovens brancos caiu 28,6%.

No Rio, os números são um pouco melhores. A taxa de homicídios no conjunto da população do estado caiu 50%, uma queda consistente, de 2002 a 2012. Com isso, as taxas de homicídios entre jovens também caíram 51,7%. E as mortes de jovens negros tiveram redução maior ainda, de 65,4%. Mas ainda foram 1.680 jovens negros assassinados em 2012 no estado.

Nos últimos dois anos, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão do governo estadual, os homicídios voltaram a cair em agosto e setembro, após 20 meses de altas seguidas. Em setembro, a queda foi de 9,5% em comparação com o mesmo mês do ano passado.

— Mesmo assim, o Rio ainda precisa intensificar suas políticas. Muita criatividade está surgindo nesses territórios mais pobres, e queremos aproveitar isso, dar ênfase à juventude da periferia. Há várias histórias interrompidas. É como se o jovem negro pobre estivesse destinado a morrer — diz Átila Roque.

O lema da campanha é “Mais chocante que a realidade, só a indiferença. Você se importa?” Quem se importa com tantas mortes, pede a campanha, pode assinar um manifesto reivindicando políticas públicas mais efetivas no combate à violência e à mortalidade de jovens negros. Voluntários estarão no Aterro colhendo assinaturas.

CONTEXTO 



O Mapa da Violência tem um capítulo intitulado “A Cor dos Homicídios”, que detalha metodologia e evolução dos assassinatos de jovens negros de 2002 a 2012. Mostra, por exemplo, que na população total, as taxas de homicídio entre brancos caem 23,8%; entre negros, crescem 7,1%. Em 2002, proporcionalmente, morreram 73% mais negros que brancos. Em 2012, esse índice sobe para 146,5%.

O assassinato de jovens negros é parte de uma estatística da qual o Brasil não se orgulha: a explosão da violência nos últimos 35 anos.

O país teve 56.337 pessoas assassinadas em 2012, o maior número absoluto de crimes desde 1980. A taxa de homicídios, que leva em conta o crescimento populacional, era de 11,7 homicídios por cem mil habitantes em 1980. Foi crescendo até 2003, quando chegou a 28,9. A partir de 2003, começou a cair por causa das campanhas de desarmamento e de políticas que reduziram os homicídios em alguns estados. Recomeçou a subir em 2007, chegando a 29 por cem mil habitantes em 2012.

Dos 56 mil assassinatos registrados em 2012, mais da metade (30 mil) teve jovens como vítimas. E, se na população não jovem (menos de 15 anos e mais de 29 anos) só 2,0% dos óbitos foram causados por homicídio, entre os jovens os homicídios foram responsáveis por 28,8% das mortes acontecidas no período 1980 a 2012.

SEM EXPLICAÇÃO

Das mortes invisíveis de jovens negros no Rio, uma das que teve maior visibilidade foi a de Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, dançarino do programa “Esquenta!”, da TV Globo. Em abril deste ano, Douglas foi morto com um tiro nas costas durante um confronto entre policiais militares e traficantes no complexo do Pavão-Pavãozinho- Cantagalo, em Copacabana.

A autoria do crime até agora não foi esclarecida. Em julho, O GLOBO mostrou que o tiro que matou DG partiu de uma pistola calibre .40, arma de uso exclusivo das polícias e que supostamente foi disparada por um soldado da PM durante a troca de tiros.

O caso provocou protestos de moradores do morro e apresentou à cidade a técnica de enfermagem Maria de Fátima da Silva, mãe do dançarino, que se transformou em mais um dos símbolos de mães que cobram justiça para as mortes de seus filhos. Fátima organizou passeatas cobrando providências e alimenta o site do filho. Virou personagem central do documentário “Mater dolorosa”, de Tamur Aimara e Daniel Caetano, sobre os protestos que se seguiram à morte de DG.

— Mataram meu filho, meu caçula. Era um filho bom e agora não está mais comigo. E a morte dele segue sem punição — lamenta.
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Publicado originalmente pelo jornal O Globo

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A Fábula Petista

Frei Betto

 

 

Tomara que Dilma cumpra sua promessa de campanha de se aproximar dos movimentos sociais, sobretudo no que diz respeito ao diálogo permanente com a juventude, os sem-terra e os sem-teto, os povos indígenas e os quilombolas.



A disputa presidencial se resumiu em um verbo predominante na campanha: desconstruir. Em 12 anos de governo, o PT construiu, sim, um Brasil melhor, com índices sociais "nunca vistos antes na história deste país". Porém, como partido, houve progressiva desconstrução.

A história do PT tem seu resumo emblemático na fábula "A cigarra e a formiga", de Ésopo, popularizada por La Fontaine. Nas décadas de 80 e 90, o partido se fortaleceu com filiados e militantes trabalhando como formigas na base social, obtendo expressiva capilaridade nacional graças às Comunidades Eclesiais de Base, ao sindicalismo, aos movimentos sociais, respaldados por remanescentes da esquerda antiditadura e intelectuais renomados.
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No fundo dos quintais, havia núcleos de base. Incutia-se na militância formação política, princípios ideológicos e metas programáticas. O PT se destacava como o partido da ética, dos pobres e da opção pelo socialismo.

À medida que alcançou funções de poder, o PT deixou de valorizar o trabalho da formiga e passou a entoar o canto presunçoso da cigarra. O projeto de Brasil cedeu lugar ao projeto de poder. O caixa do partido, antes abastecido por militantes, "profissionalizou-se". Os núcleos de base desapareceram. E os princípios éticos foram maculados pela minoria de líderes envolvidos em maracutaias.

Agora, a cigarra está assustada. Seu canto já não é afinado nem ecoa com tanta credibilidade. Decresceu o número de sua bancada no Congresso Nacional. A proximidade do inverno é uma ameaça.


Mas onde está a formiga com suas provisões? Em 12 anos, os êxitos de políticas sociais e diplomacia independente não foram consolidados pela proposta originária do PT: "Organizar a classe trabalhadora" e os excluídos.

Os avanços socioeconômicos coincidiram com o retrocesso político. Em 12 anos de governo, o PT despolitizou a nação. Preferiu assegurar governabilidade com alianças partidárias, muitas delas espúrias, em vez de estreitar laços com seu esteio de origem, os movimentos sociais.

Tomara que Dilma cumpra sua promessa de campanha de avançar nesse quesito, sobretudo no que diz respeito ao diálogo permanente com a juventude, os sem-terra e os sem-teto, os povos indígenas e os quilombolas.

O PT até agora robusteceu o mercado financeiro e deu passos tímidos na reforma agrária. Agradou as empreiteiras e pouco fez pelos atingidos por barragens. Respaldou o agronegócio e aprovou um Código Florestal aplaudido por quem desmata e agride o meio ambiente.

É injusto e ingênuo pôr a culpa da apertada e sofrida vitória do PT nas eleições de 2014 no desempenho de Dilma.

Se o PT pretende se refundar, terá que abandonar a postura altiva de cigarra e voltar a pisar no chão duro do povo brasileiro, esse imenso formigueiro que, hoje, tem mais acesso a bens materiais, como carro e telefone celular, mas nem tanto a bens espirituais: consciência crítica, organização política e compromisso com a conquista de "outros mundos possíveis".
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CARLOS ALBERTO LIBANIO CHRISTO, 70, o Frei Betto, é assessor de movimentos sociais e escritor. É autor de "A Mosca Azul - Reflexão sobre o Poder" (Rocco), entre outros livros 

sábado, 8 de novembro de 2014

LULA, Reconhecimento Internacional e as Elites Brasileiras

Por Newton Lima



"LULA É O MAIS IMPORTANTE POLÍTICO DA ATUALIDADE."                      (Eric Hobsbawm)


Conhecemos a saga de grandes estadistas, como Mikhail Gorbatchóv, aclamados no mundo inteiro por feitos de alcance universal, mas que acabaram rejeitados por seus próprios conterrâneos, incapazes de captar a dimensão histórica das mudanças empreendidas. Já o Brasil teve líderes políticos queridos pelo povo e vilipendiados pelas elites, como Getúlio Vargas e João Goulart, e que por isso tiveram seus governos interrompidos. Mas nunca ninguém como o ex-presidente Lula conseguiu, em seus mandatos e depois deles, ter tanto apoio e reconhecimento internacional e, ao mesmo tempo, ser objeto de tanto ódio e preconceito por parte de alguns setores da oposição.
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Há dois dias o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma matéria revelando que, com os 11 últimos títulos de Doctor Honoris Causa recebidos em menos de um mês, Lula passou a liderar a lista de homenagens a ex-presidentes, com 55 honrarias: 24 títulos de Doctor Honoris Causa (11 brasileiros); 28 prêmios e cinco títulos de cidadania. A título de comparação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acumulou 22 honrarias: nove títulos de Doctor Honoris Causa; 11 prêmios e dois títulos de cidadania.

Na semana passada, Lula recebeu o título de Doctor Honoris Causa da Universidad Mayor de San Marcos, em Lima (Peru), fundada em 1551 e a mais antiga das Américas. O ex-presidente se emocionou por ter recebido a honraria da mesma universidade que, no passado, homenageou os libertadores Simón Bolívar e San Martí. E, no mês passado, Lula esteve na Argentina para receber o mesmo título de nada menos que oito universidades daquele país, entre elas a Universidad Nacional de San Martín e a Flacso (Facultad Latino-americana de Ciencias Sociales).

Entre os tantos títulos internacionais já recebidos por Lula cabe aqui destacar o que foi entregue em Nova York em abril pelo International Crisis Group, um think tank americano que concedeu ao ex-presidente o prêmio Em Busca da Paz; e o que ele recebeu em outubro de 2011, o World Food Prize, criado pelo Nobel da Paz de 1970 Norman E. Bourlaug para homenagear chefes de Estado que combateram a fome. No mesmo ano, ele também recebeu o Prêmio Lech Walesa em Gdansk (Polônia), que presta homenagens a personalidades que se destacam pelo respaldo à liberdade, à democracia e à cooperação internacional.

Mas talvez a honraria mais célebre e a que causou maior polêmica tenha sido o Doctor Honoris Causa concedido ao ex-metalúrgico pelo prestigioso Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Sciences Po, também em 2011. Lula foi apenas o 16º Doctor Honoris Causa dessa universidade em 140 anos de existência. Pelos bancos da Sciences Po se formaram o escritor Marcel Proust, o ex-presidente Jacques Chirac; o ex-premiê Lionel Jospin e Pascal Lamy, ex-diretor da OMC, entre outros.

À pergunta impertinente de alguns jornalistas brasileiros sobre o porquê de Lula – e não Fernando Henrique Cardoso – ter recebido semelhante distinção, o diretor do Instituto de Estudos Políticos Richard Descoings, respondeu que o ex-presidente "mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo". Nas palavras do diretor, "o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. O presidente Lula mostrou que é possível ser um bom presidente sem ter que passar pela universidade".

Na oportunidade, o grande jornalista argentino Martín Granovsky lavou a alma de Lula e do povo brasileiro ao escrever ironicamente que no Brasil"um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se, por alguma casualidade, chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. Assim, Lula, silêncio, por favor. Os da Casa Grande estão irritados".

Além do apoio da maioria da população, esse amplo reconhecimento internacional de Lula, feita por entidades tão díspares, deveria levar a oposição mais intransigente à reflexão. Afinal, Lula liderou um governo que em oito anos inverteu as prioridades nacionais e tirou 28 milhões de pessoas da miséria, possibilitou o ingresso de outros 39 milhões na classe média e criou 16 milhões de empregos formais. Não por acaso, o historiador britânico Eric Hobsbawm, morto ano passado, disse que Lula é o mais importante político da atualidade.
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NEWTON LIMA é deputado federal pelo Partidos dos Trabalhados.  Essa materia foi publicada originalmente no site Brasil 247   em 11 de julho de 2013.





sábado, 1 de novembro de 2014

Terra, Teto e Trabalho são direitos sagrados!

Papa Francisco

"Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos"



Discurso do Santo Padre Francisco aos participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares


Bom dia de novo. Eu estou contente por estar no meio de vocês. Aliás, vou lhes fazer uma confidência: é a primeira vez que eu desço aqui [na Aula Velha do Sínodo], nunca tinha vindo.

Como lhes dizia, tenho muita alegria e lhes dou calorosas boas-vindas. Obrigado por terem aceitado este convite para debater tantos graves problemas sociais que afligem o mundo hoje, vocês, que sofrem em carne própria a desigualdade e a exclusão. Obrigado ao cardeal Turkson pela sua acolhida. Obrigado, Eminência, pelo seu trabalho e pelas suas palavras.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O delírio da divisão etno-geográfica do país

Por Paulo Franco

As eleições de 2014 desencadeou uma combinação perigosa de ignorância, preonceitos, discriminação e arrogância, que só se dissipará com o exercício da democracia e seu consequente fortalecimento.





UM EXEMPLO RECENTE NOS ESTADOS UNIDOS


Nas eleições presidenciais de 2000, para substituir o então presidente do Partido Democrata, Bill Clinton, nos Estados Unidos da América, o candidato do Partido Republicano obteve a maioria dos votos do colégio eleitoral, sendo eleito por 271 delegados.

Al Gore, candidato da situação, do Partido Democrata, obteve o voto de 266 delegados, perdendo para o candidato republicano por apenas 5 votos no colégio eleitoral.
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Todavia os 271 delegados que escolheram Busch representavam 50.456 mil votos populares, enquanto que os 266 delegados que votaram em Al Gora, represetaram 50.996 mil votos populares, ou seja, Al Gore "venceu" por 540 mil votos populares.