quinta-feira, 1 de março de 2018

Legalização da maconha nos EUA reduziu o crime na fronteira com o México, diz estudo

Queda de 13% no crime nos Estados fronteiriços e em outros países indica que a solução para a violência não está na guerra às drogas e sim na legalização


Enquanto no Brasil insistimos na burra, assassina e contraproducente guerra às drogas, nos Estados Unidos, país que a direita nativa adora imitar, mas apenas no que é ruim, a legalização da maconha está levando a uma queda acelerada dos crimes violentos na fronteira com o México. De acordo com o estudo A maconha legal está quebrando as organizações de tráfico mexicanas? O efeito das leis da maconha medicinal sobre o crime nos EUA, o crime caiu, em média, 13% nos Estados fronteiriços onde a cannabis foi legalizada.

A maior parte da maconha consumida nos EUA vem do México, e o impacto sobre o tráfico na fronteira foi tão grande que o vizinho também já está discutindo legalizar. 

“Estas leis permitem a fazendeiros locais cultivar a maconha que venderão aos dispensários onde são comercializados legalmente. Estes cultivadores estão em competição direta com os cartéis mexicanos que traficam a erva para os EUA. E o resultado é que os cartéis têm muito menos demanda. Onde quer que haja lei de maconha medicinal nós observamos que o crime na fronteira cai, porque subitamente há menos tráfico e menor violência associada a isso”, disse ao Guardian a economista Evelina Gavrilova, da Norwegians School of Economics, uma das autoras do estudo.


Gavrilova e os colegas Takuma Kamada e Floris Zoutman analisaram estatísticas criminais do FBI de 1994 a 2012. A maior mudança decorrente da legalização foi na Califórnia, onde houve uma redução de 15% nos crimes violentos, e a menor no Arizona, onde houve uma queda de 7%. O roubo caiu  9% e os assassinatos, 10%. Já os homicídios relacionados ao tráfico despencaram absurdamente: 41%.

Mas não precisamos ir tão longe. Nosso vizinho Uruguai viu cair 18% do narcotráfico após quatro anos de legalização da maconha. Hoje, segundo estatísticas divulgadas pela Junta Nacional das Drogas, um em cada seis usuários uruguaios adquire seus baseados de forma legal, na farmácia ou cultivando em casa e em clubes canábicos.   De quebra, o estudo contradisse a crença dos detratores da maconha de que quem fuma é “vagabundo”: 52% dos compradores nas farmácias são trabalhadores do setor privado e 12% do setor público; só 26% não têm atividade laboral, mas entre eles estão aposentados e estudantes universitários.


Em Portugal, a descriminalização de todas as drogas já há 17 anos reduziu o próprio consumo de substâncias entorpecentes, ao contrário do que a􀁿rma o conservadorismo. O número de jovens entre 15 e 24 anos que disse ter usado drogas nos 30 dias anteriores caiu quase 50% desde que o consumo deixou de ser crime.

Em setembro do ano passado, o jornal New York Times publicava uma longa reportagem sobre como Portugal venceu a guerra às drogas descriminalizando-as. Em 1999, o país era o líder europeu em contaminados pelo vírus da Aids por meio de agulhas compartilhadas. 

Naquela época, 1% da população portuguesa consumia heroína. Hoje, esse número caiu para 0,25% e os novos casos de contaminação pelo vírus HIV provocados pelo compartilhamento de agulhas infectadas despencaram de 50% para 5%. Além disso, Portugal é o país europeu onde menos se morre por overdose: uma queda de 85% em 15 anos.


Não há estatísticas sobre homicídios relacionados ao uso de drogas, mas o número de pessoas presas no país por crimes relacionados a drogas caiu de 14 mil por ano em 2000 para 6 mil após a descriminalização, de acordo com a ONU.  A proporção de presos por crimes relacionados a drogas na população carcerária portuguesa foi de 44% em 1999 para 21% em 2012. No Brasil, um em cada três presos responde por tráfico.

No ano passado, o ministro do STF Luis Roberto Barroso defendeu a legalização das drogas como forma de reduzir a população carcerária. “A crise no sistema penitenciário coloca agudamente na agenda brasileira a discussão da questão das drogas. Ela deve ser pensada de uma maneira mais profunda e abrangente do que a simples descriminalização do consumo pessoal, porque não resolve o problema. Um dos grandes problemas que as drogas têm gerado no Brasil é a prisão de milhares de jovens, com frequência primários e de bons antecedentes, que são jogados no sistema penitenciário.


Pessoas que não são perigosas quando entram, mas que se tornam perigosas quando saem. Portanto, nós temos uma política de drogas que é contraproducente. Faz mal ao país”, afirmou.  No ano passado, o ministro do STF Luis Roberto Barroso defendeu a legalização das drogas como forma de reduzir a população carcerária. “A crise no sistema penitenciário coloca agudamente na agenda brasileira a discussão da questão das drogas. Ela deve ser pensada de uma maneira mais profunda e abrangente do que a simples descriminalização do consumo pessoal, porque isso não resolve o problema. Um dos grandes problemas que as drogas têm gerado no Brasil é a prisão de milhares de jovens, com frequência primários e de bons antecedentes, que são jogados no sistema penitenciário.

Pessoas que não são perigosas quando entram, mas que se tornam perigosas quando saem. Portanto, nós temos uma política de drogas que é contraproducente. Ela faz mal ao país”, afirmou.  Após a intervenção militar no Rio de Janeiro, Barroso voltou a atacar a guerra às drogas em palestra na sexta-feira, 23.  “Os EUA, desde a década de 1970, lideraram uma guerra, com uso militar, contra as drogas em várias partes do mundo, que custaram milhões de dólares, centenas de milhares de vidas e outros tantos de prisões. Mas o consumo de drogas no mundo inteiro não parou de crescer.  Estamos falando de uma guerra que foi perdida. E mesmo no país que liderou a guerra às drogas boa parte dos estados já descriminalizou. Do ponto de vista econômico, a única coisa que a criminalização faz é assegurar o monopólio do tráfico. Então o Estado é parceiro do tráfico ao criminalizar”, disse. “As políticas têm de quebrar o poder do tráfico, que advém da ilegalidade. A luta armada contra o tráfico não venceu os criminosos.”

Este seria o caminho mais racional, mais de acordo com o nosso tempo. A “ponte para o passado” de Temer prefere, porém, ir na contramão do mundo e seguir a trilha obscurantista de mandar o Exército intervir para fichar moradores e revistar mochilas de crianças na favela para “combater” o crime.
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FONTE: Socialista Morena

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